A publicação de Memórias de Marta, como inauguração da Inspirium — Sobre Mulheres Inspiradoras, foi uma decisão natural e até mesmo um tanto óbvia.
Memórias de Marta é o registro, construído por meio de palavras, sentimento e emoção, de uma época que remonta ao passado de nosso país. A existência de cortiços, os bailes e casamentos não diferem do que comumente está presente na memória popular. No entanto, poucos foram os autores que permaneceram até hoje ao narrarem histórias tão centradas em mulheres, explorando-as em níveis diversos.
São dois centros de narrativa, e, ao mesmo tempo, as duas mulheres são centro uma da outra, em uma relação de entrega, confiança e afeto incondicional. Ademais, através das falas de nossas protagonistas, ouvimos também a voz da autora, em um grito sutil e ao mesmo tempo poderoso sobre a profundidade tão ignorada das mulheres. Júlia jamais relegou o compromisso familiar supostamente devido à época, mas ampliou, de maneira inédita, o relato sobre seus interesses. Foi pioneira ao referir-se aos estudos e ao trabalho como desejos de uma mulher e caminhos para a satisfação de suas necessidades na vida adulta.
Nossa edição traz também alguns artigos (dez páginas) como extras especiais, são eles: Júlia Lopes de Almeida e sua voz pela mulher (Camila Pelegrini), Marta mãe — um retrato atemporal (Camila Pelegrini), O trabalho feminino e a indústria da Confecção (Flavio P. Oliveira) e Um pouco sobre São Cristóvão (Flavio P. Oliveira). Traz ainda algumas ilustrações e fotografias antigas, engrandecendo o prazer da leitura desse clássico.
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Sinopse
Memórias de Marta é o primeiro romance de Júlia Lopes de Almeida, publicado em 1888, inicialmente em folhetim e posteriormente compilado em livro. Como o próprio título entrega, o livro, narrado em primeira pessoa, conta a história de Marta. A maior parte da trama desenvolve-se dentro de um cortiço, tendo como cenário principal a Capital do Império à época, o Rio de Janeiro.
Quando criança, a protagonista perde o pai, e, com isso, a mãe, também chamada Marta, é forçada a trabalhar como engomadeira, para sustentá-las. O dinheiro recebido com esse serviço é pouco e obriga ambas a viverem em um cortiço. Marta sente a aversão pelo lugar, que é úmido, fétido, perto de um matadouro. Ela almeja sair do cortiço, pelo asco, pela ojeriza e para fugir da humilhação da pobreza, e isso será possível a partir do momento em que entra para a escola e conhece a sua professora, D. Aninha.
O relato, que relembra sua sofrida trajetória e a busca por melhores condições de vida para ela e para sua mãe, é mais que uma procura por felicidade, carinho, realização de sonhos improváveis e aceitação de uma existência, às vezes tediosa, sem amor, riqueza ou luxo; é também a valorização da sua posição de independência e da capacidade feminina de superar desafios.
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A autora
Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida (Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1862 — Rio de Janeiro, 30 de maio de 1934) foi uma escritora, cronista, teatróloga e abolicionista brasileira. Tem uma produção grande e importante para a literatura brasileira, de literatura infantil a romances, crônicas, peças de teatro e matérias jornalísticas. Mulher valente, dedicada, foi presidenta honorária da Legião da Mulher Brasileira, sociedade criada em 1919, e integrou o grupo de escritores e intelectuais que planejou a criação da Academia Brasileira de Letras. Seu nome constava da primeira lista dos 40 “imortais”, na primeira reunião da ABL, porém, seu nome foi excluído. Os fundadores optaram por manter a Academia exclusivamente masculina. No lugar de Júlia Lopes entrou justamente o seu marido, Filinto de Almeida, que chegou a ser chamado de “acadêmico consorte”. O veto à participação de mulheres só terminou em 1977, com a eleição de Rachel de Queiroz para a cadeira nº 5.
Júlia Lopes de Almeida é uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos e merece ter os seus livros publicados atualmente por várias editoras.
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Dados técnicos
Loja/livraria virtual da Delirium editora. A Delirium — voltada para a busca de histórias e textos criativos, indo do lirismo à loucura, passando pelo lúdico, sempre com ousadia — é uma microeditora carioca, que vem crescendo. Temos no nosso catálogo e no planejamento o intuito de publicar livros ousados e criativos, com temas importantes, sempre com um jeito imaginativo de criar histórias.